terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Ensinando algo entre respeito e tolerância



Sempre que estou animada, cantando animadamente ou cantarolando Arthur se mostra terrivelmente rebelde, bravo e irritado. Não sei se é uma espécie de contradição em que toda vez que estou de bem com a vida ou toca música boa no rádio que me empolga meu filho está (coincidentemente) de mau humor, cansado ou bravo ou se ele quer mesmo me tolher. Só sei que ontem conversamos muito sério sobre isso.

Estávamos voltando para casa e já passava das 21h. Fazia pouco tempo que ele tinha acordado do sono da tarde (que foi fora de hora já pelas 18h - essas férias me matam) e geralmente este (o acordar) é realmente um momento de muito mau-humor dele.

No rádio estava tocando Tá Combinado da Gal Costa e eu cantava animadamente no caminho de casa. Chegamos na garagem, parei o carro e fiquei esperando a música terminar. Quando chegamos, a música já estava no final. Como eu sei que ele sempre fica bravo quando quero terminar de ouvir uma música, estava fazendo o procedimento de pegar as coisas e sair do carro de forma lenta para que desse tempo da música terminar sem que ele se irritasse mais e nem percebesse minha lenga-lenga. 

Eis que ele começou a se incomodar e a me pedir para parar de cantar, se irritando cada vez mais porque eu continuava cantando e ouvindo a música: 
- Para mãe. Para! Você não pode cantar! Grrrr. resmungava meu pequeno zangado.

Para piorar, na sequência, começou outra música boa. Não lembro qual, mas era uma do Legião Urbana. Mas como ele já estava irritado e bravo e me pedindo para parar (e eu nem dando ouvido e ignorando mesmo), eu desliguei o rádio, saímos do carro e continuei cantando a música do Legião. Enquanto ele descia do carro, eu pegava as coisas no porta-malas. Ele, bravo, bateu a porta do carro com força para chamar atenção e se vingar da minha mal-criação.

Eis que comecei a conversar. Disse que eu estava cantando e questionei o problema. Ele, bravo e entredentes, só me dizia que não queria que eu cantasse porque ele não gostava. Então, comecei a dizer que eu gostava, que ele tinha que aprender a respeitar os outros, o gosto dos outros, a vontade dos outros. E então coloquei de forma clara e objetiva uma cena hipotética de nosso cotidiano:

- Arthur, já pensou se quando você ficasse me perguntando dos números ou contando eu me irritasse e dissesse para você parar que eu não ia mais te ajudar? Eu também não gosto dos números, mas toda vez que você me pergunta, eu te ajudo. Eu não gosto, mas respeito e tolero que você goste e queira saber, então eu te ajudo. Então, eu gosto de cantar e quero que você entenda e respeite isto. Quando eu quiser cantar, eu vou cantar uma música legal. E quando você quiser contar, você vai contar e eu vou te ajudar. Assim, quando eu cantar eu fico feliz. E quando você contar, você também vai ficar feliz. Eu vou te respeitar e te ajudar e você vai me entender e me respeitar. Estamos combinado?

Foi algo assim. Didático. Em um exercício claro de alteridade (acho que eles são sempre os melhores. Colocar-se no lugar de outro é realmente algo prático e de fácil entendimento).

Espero, apenas, que tenha funcionado. E assim seguimos tentando ensinar, tentando aprender, tentando mudar, tentando acertar.


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