terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre morte: pais, filhos e irmãos

Já escrevi algumas vezes da vontade que tinha de dar um irmão ao Arthur. Ou melhor, já falei da vontade que eu tinha de ter dois filhos na vida. Mas aí, veio a roda viva e levou tudo pra lá.

Sim, quando a realidade bateu à minha porta eu revi meus sonhos e coloquei dois pés no chão. Não dava para ter dois filhos daquela maneira de viver - agora não vou entrar nestes detalhes pois para hoje não interessa.

Frequentemente Arthur me pede irmãos, me matando um pouco por dentro é bem verdade. Afinal, quem tem irmãos sabe o quão isso é bom na vida. É bem verdade que eu tenho muitos, mas amor, relação e apego entre irmãos é como entre amigos: tem que ter empatia e convivência se não é mero laço de sangue e nada mais. E sei bem o que digo. Afinal, meus irmãos são aqueles com os quais eu divido lembranças, construí minha história e não todos com os quais tenho pai ou mãe em comum. Ser irmão é muito mais do que nascer do mesmo pai e da mesma mãe.

Há alguns dias, eu li um texto (neste mundo digital ainda não encontrei, mas estou procurando para dar crédito e colocar o link - então se alguém também leu e sabe onde, me conta por favor) de uma pessoa que tratava da morte dos pais e de como lidava com aquilo. Agora, não lembro ao certo se era ela quem não tinha irmãos para dividir a dor ou se o filho único que não teria quando a morte dela acontecesse. Bom, honestamente, eu nunca tinha pensado por este olhar e ele me tocou muito. Pensei que triste seria quando eu morresse se o Arthur não tivesse um irmão para dividir a dor da morte da mãe e que entenderia aquela dor na mesma proporção.

Hoje a tal vida irônica me colocou diante desta exata situação. O pai de um amigo de trabalho faleceu. Ele é filho único. Os pais também são/eram. A mãe do pai é viva e para piorar tudo perdeu seu único filho. Ele estava com a mãe para consolá-lo, que já era separada do pai há alguns anos. Ele estava com a namorada e alguns amigos para apoiá-lo, mas ninguém ali sentia na mesma proporção que ele. Ninguém tem as mesmas lembranças e o mesmo amor e, apesar de estar cercado de pessoas e certamente de amor e amparo, ele estava sozinho e enfrentará esta dor sozinho. Sem ninguém que compartilhe dela ou que sinta o mesmo. Isso realmente me arrasou. Isso me fez pensar que sim, um dia, eu precise mesmo dar o irmão ou irmã que o Arthur tanto me pede.

Um velório e um enterro sempre nos colocam diante das nossas fraquezas e da nossa limitação humana. Da nossa pequenez e nos faz pensar no que realmente importa na vida. Mas hoje, em uma soma de todos os últimos acontecimentos, ele me fez pensar no meu filho e no quão importante seria em ele ter um irmão. Por hoje, impactada com tudo isso, eu só desejo um dia realizar essa vontade dele, que também já foi minha.

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